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Tecnologia demais no carro tira o prazer de dirigir?

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Notícias Automotivas - Carros - Tecnologia demais no carro tira o prazer de dirigir?

tecnologia no carro Tecnologia demais no carro tira o prazer de dirigir?

Desta vez vamos contar com a ajuda de um personagem da vida real para saber se tecnologia demais no carro diminui o prazer de dirigir ou atrapalha em alguma coisa. E o quanto cada um precisa dela.

O senhor José Leonardo é fazendeiro. Cria gado Jersey, Simental e Nelore. E planta café para exportação. Tem três fazendas. Uma no Estado do Mato Grosso do Sul, uma no Paraná e a outra em Minas Gerais. Por insistência dos filhos, resolveu ir ao último Salão do Automóvel ver uma “caminhonete” ou “peruona” invocada.

Veremos mais adiante como foi a experiência. Primeiramente vamos conhecer um pouco nosso personagem e sua rotina. O dia de Zé Nardo, como é chamado e conhecido por todos, começa cedo, muito cedo. Com bolo de fubá e café de coador.

Sempre foi assim na fazenda onde mora há décadas. Ele ganhou uma cafeteira Dolce Gusto, que adora, mas prefere deixá-la enfeitando a copa. Afinal, o melhor café do mundo é o seu. E ele não sabe de onde vem o café contido naqueles potinhos. Melhor não arriscar.

O fazendeiro não pode perder tempo. Termina o café. abre o notebook, vê a previsão do tempo, confere e-mails e ao lado, na singela agenda de papel, confere os compromissos do dia. Os compromissos mais importantes ainda são anotados à moda antiga, no papel. “Vai que esse troço enguiça”, diz ele. Após isso, começa um dia corrido.

Não raro, nosso personagem tem que ver o gado e falar com o veterinário de confiança  no Paraná – coisas que prefere fazer pessoalmente -, ver a qualidade de novas sementes de café em Minas, negociar sacas em algum local determiado e à noite ainda tem leilão de gado para ir.

Às vezes como vendedor, levando os seus premiados exemplares ou mesmo vendendo apenas o material genético deles. E como comprador, procurando uma boa matriz (vaca) ou um bom reprodutor (touro).

Para que seja possível fazer tudo isso num dia, Zé Nardo foi convencido pelo cunhado, engenheiro agrônomo e sócio minoritário, que seria necessário ter um avião. E agora são dois. Conforme o dia, cada um deles utiliza uma aeronave para não perder compromissos.

Tempo é dinheiro. “Taime is mânei”, sorri dizendo Zé, mostrando seus dentões verdadeiros que não são prótese e esfregando o polegar no indicador, gesto típico de contar dinheiro. Estive uma vez num desses leilões de gado. Faz muito tempo!

Nunca tinha ido. Os lances começaram em R$ 40 mil para uma vaca. O carro da época, o Marea, custava R$ 28 mil completo. Uma S-10 ou Ranger completíssima turbodiesel, por volta de R$ 45 mil. O valor do lance chegou a R$ 90 mil.

Comentei com meu colega, sobrinho do fazendeiro: “- Vaquinha cara, heim!”. Ele me explica, surpreendendo-me ainda mais: “- Na verdade são 10 parcelas de R$ 90 mil.” Nossa!!!, pensei. Comecei a entender a dimensão do termo “agrobusiness”.

Bom, agora que vocês conhecem um pouco mais nosso personagem e sabem do que ele vive e como ele pensa, vamos voltar ao Salão do Automóvel, mencionado no primeiro parágrafo. O stand era o da Land Rover. Seu filho, empolgado, resolve lhe mostrar o Discovery 4 Tdi.

Ao entrar, Zé Nardo acha lindo, mas não se sente muito à vontade. Nunca havia dirigido um carro automático. Acha curioso o seletor giratório da tração Terrain Response. Pergunta: “É confiável isso? Mas tem reduzida? O sistema de alavanquinha não é melhor?”.

Ele está acostumado com sua rara D-20 4×4 dos anos 1990, com sistema desenvolvido em parceria com a Engesa. Em cada Fazenda há um jipe e uma F250, já com seletor no painel, mas que Zé Nardo ainda não precisou utilizar, por isso tem dúvidas.

Quando precisa sair só vai de D20 ou de Jipe. Diante da insistência do fiho, diz: “ – Quer uma procê a gente compra. Vamos só esperar pra ver se no próximo leilão entra um dinheirinho bão”. Dinheirinho “bão” nesse caso, é quando o lucro é maior que R$ 4 milhões.

Através dos filhos e netos, o fazendeiro vai se habituando com a tecnologia. Em suas viagens aos EUA, Europa e Ásia, a trabalho, claro – pois detesta sair do mato – leva sempre a listinha de encomendas. Contendo pedidos como iPods, iPhones e iPads.

E “ai” se não trouxer. Não se conformou com o tablet, que não é nem um monitor, nem um telefone, nem um computador. E uma vez, com seu telefone sem bateria, pediu ao neto Felipe que lhe emprestasse o iPhone. Não deu outra:  “ – Como se disca nessa *****?”, indagou. Felipe explicou. Quase furou a pequena tela pressionando os números. No fim deu certo.

Essa história, com H por ser verídica, mostra que a tecnologia avança no mundo. Incluindo a tecnologia embarcada nos carros. Mas será que não há excesso, recursos desnecessários ou não interativos?

Não se sinta um saudosista se você já se perguntou isso, pois até o presidente da Mercedes-Benz, por volta de 2005, reuniu-se com todos os departamentos da empresa (design, marketing e engenharia) e de posse de dados coletados em pesquisas com consumidores fez esta mesma pergunta aos seus colaboradores.

Abriu-se uma discussão que durou meses e que chegou a conclusões importantes como a de que a tecnologia tem que servir para interagir e auxiliar e não para intimidar. E que se houver alguma que seja desnecessária, que distraia a atenção, que não seja em função da segurança ou que não seja utilizada nunca pelo motorista, deverá ser retirada em prol do prazer e da singeleza.

E há os que preferem assim. Mesmo no que se refere à segurança. O Dodge Viper foi um carro para puristas, que queriam um motor grande, 8.4 litros, de 10 cilindros, tração traseira e sem controles de tração, estabilidade, ABS ou direção hidráulica. “Luxo” só ar condicionado.

E há versões da Porsche, como Cayman R e GT3 que colocaram até este item como opcional para reduzir peso e aumentar o prazer na condução. Na Inglaterra existe um esportivo tipicamente inglês, o TVR Tuscan, que é considerado um ícone para quem gosta de feras quase indomáveis. Tem o necessário, assim como o Viper. Sem ar ou conjunto de som. A música vem do motor. Zé Nardo optaria por um desses.

Exagero purista ou não, o fato é que a tecnologia é algo bom, mas que não pode escravizar e sim, servir. Mas qual será o equilíbrio, leitor? Na sua opinião, há excesso de tecnologia no mundo, não só no automotivo? Do que você abriria mão? Já se sentiu intimidado ao sentar em um carro com tantos botões que ficou confuso e sem ação como Zé Nardo no Land Rover? Para que serve a tecnologia?

Por Gerson Brusco Gonzalez




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